Portos brasileiros e a competição internacional: modernização, governança e custos logísticos

27 de set. de 2025

Os portos brasileiros movimentam a maior parte do comércio exterior do país e são estratégicos para o escoamento de grãos, minérios e combustíveis. A diversidade geográfica garante presença em todas as regiões, mas a eficiência logística depende de investimentos contínuos em gestão, infraestrutura e integração modal.

Atualmente, a administração dos portos organizados é realizada pelas Companhias Docas ou autoridades portuárias vinculadas ao governo federal. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) regula e fiscaliza o setor, enquanto a Receita Federal atua no controle aduaneiro, a Marinha na segurança da navegação, e órgãos ambientais na avaliação de impactos. Trata-se, portanto, de intrincada malha regulatória, marcada pela atuação de diversos agentes públicos no sentido de ordenar as operações no setor.

Apesar da histórica atuação do setor público, nos últimos anos, houve ampliação do protagonismo dos terminais de uso privado (TUPs), que operam mediante contratos de adesão celebrados com o Poder Público. Esse arranjo possibilitou investimentos diretos da iniciativa privada, sobretudo em segmentos de exportação de commodities, possibilitando maior flexibilidade operacional e dinamismo na movimentação de cargas.

Evidentemente, a logística portuária, sobretudo diante da ampliação do papel dos terminais de uso privado, enfrenta uma série de desafios, especialmente relacionados a custos logísticos e variáveis operacionais que vão desde a gestão da estadia das embarcações até a interligação com os outros modais que levarão as cargas até as acomodações portuárias. Nesse sentido, os custos portuários são influenciados por fatores como:

  • Dragagem e calado – A manutenção periódica da profundidade dos canais é necessária para receber embarcações de maior porte, reduzindo custos por tonelada transportada.

  • Tempo de estadia dos navios – O período médio de atracação impacta diretamente o preço final do frete. Reduções nesse tempo ampliam a competitividade brasileira.

  • Conexão com outros modais – Portos com ligação ferroviária e hidroviária apresentam maior eficiência no escoamento, enquanto os dependentes exclusivamente do transporte rodoviário enfrentam gargalos sazonais.

  • Retroáreas logísticas – A existência de pátios, armazéns e zonas industriais próximas ao porto favorece operações mais rápidas e reduz a sobrecarga no entorno urbano.

 

Todos esses desafios são acompanhados de um conjunto de gargalos associados à intensa carga burocrática do setor, razão pela qual fica destacada a importância de iniciativas que pretendem simplificar os procedimentos necessários à dinâmica do setor. O Porto Sem Papel é a principal iniciativa voltada à unificação digital dos procedimentos, permitindo a tramitação eletrônica de documentos entre órgãos intervenientes. A digitalização é descrita como caminho para reduzir redundâncias, aumentar a transparência e facilitar a previsão de prazos por parte de armadores e operadores logísticos.

A regulação envolve múltiplas instâncias, o que amplia a necessidade de coordenação. Projetos em debate buscam consolidar sistemas eletrônicos integrados e protocolos unificados, capazes de reduzir custos administrativos e elevar a confiabilidade do ambiente de negócios.

Trata-se, por certo, de uma entre várias as iniciativas voltadas a impulsionar a economia portuária, exigindo abordagem holística que enderece os problemas sob uma perspectiva macro, mas sem descurar das necessidades cotidianas dos agentes que operam no setor, notadamente diante dos custos que muitos desses gargalos podem representar. As propostas de modernização que vêm sendo discutidas e implementadas no setor portuário incluem:

  • Integração modal: expansão de corredores logísticos conectando diretamente portos a ferrovias e rodovias, como a Ferrovia Norte-Sul e a BR-163.

  • Ampliação de dragagem: obras de manutenção contínua em portos estratégicos para adequação a navios de maior calado.

  • Zonas de processamento logístico: incentivo à instalação de parques industriais e centros de distribuição em áreas retroportuárias.

  • Digitalização plena: unificação dos sistemas de controle e uso de tecnologia para monitoramento em tempo real das operações.

  • Sustentabilidade operacional: projetos de eficiência energética, redução de emissões e gestão ambiental das atividades portuárias.

  • Gestão profissionalizada: fortalecimento de práticas administrativas com foco em previsibilidade regulatória, planejamento de longo prazo e autonomia operacional.

 

Os portos brasileiros apresentam condições para ampliar sua competitividade por meio de investimentos em integração logística, governança administrativa e digitalização. A consolidação dessas iniciativas pode reduzir custos, aumentar a eficiência e garantir que o setor portuário acompanhe o ritmo das transformações logísticas globais.

Informação em conhecimento, conhecimento em articulação e articulação em impacto

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